a casa se plantou ao lado da árvore
e pintou a sombra de amarelo-alegria
abriu uma grande janela na frente
feliz de ter vizinho-passarinho
cantando bom dia
depois de um tempo de estranhamento
a árvore fez amizade com o cimento
foi-se enraizando pelo chão da casa
e hoje seu braço mais alto vive apoiado
na curva suave do telhado
quem vê as duas assim entrelaçadas
não sabe dizer quem nasceu antes
mas isso não é nada importante diante
de uma casa e uma árvore
vivendo abraçadas
27 de abr. de 2015
21 de abr. de 2015
14 de abr. de 2015
saudade
Hoje ela apareceu logo cedo, entrou na cozinha e me surpreendeu ainda de pijama: um susto, eu e o pão pulando da torradeira, e de repente o gosto do lanche que você levava pra escola. A saudade me dá bom dia e diz: tudo parece ontem, mas ontem é outro tempo. Novo susto e agora choro do lado do fogão, enquanto a saudade vai se espalhando pela casa, misturada com o cheiro do café fresquinho.
7 de abr. de 2015
tímida
A menina: palavras contidas entre parênteses, sorriso apertado entre aspas, e os olhos, quase sempre baixos, pra não se relevar nas entrelinhas.
1 de abr. de 2015
mentiras sinceras
"Bem sei que é nas memórias que os homens mentem mais (...) Quem escreve memórias arruma as coisas de jeito que o leitor fique fazendo uma alta ideia do escrevedor. Mas para isso ele não pode dizer a verdade, porque senão o leitor fica vendo que era um homem igual aos outros. Logo, tem de mentir com muita manha, para dar ideia de que está falando a verdade pura."
("Memórias da Emília", de Monteiro Lobato)
("Memórias da Emília", de Monteiro Lobato)
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